A Associação Cabelos Brancos e o Liceu Camões (Lisboa) promoveram no final de Novembro uma tertúlia com Bernardo Barata (baixista de Diabo na Cruz) e Carlão (a.k.a. Pacman, ex-Da Weasel). Perante uma audiência com alunos do Liceu Camões, debateram e reflectiram vivências e expectativas sobre o envelhecimento, a importância do tempo e da passagem dos anos.
Alguns excertos das intervenções de Bernardo Barata:
«Um dos concertos recentes de que mais gostei foi a Patti Smith com uma banda em que alguns dos músicos tinham 60 e muitos anos. Era um concerto de rock'n'roll, com muita gente aos saltos, e aquela senhora com 60 e muitos estava ali a dar um espectáculo melhor do que muitos artistas muito mais novos. Porque não parou, não se deixou parar. Do ponto de vista da paixão e da vontade que há em continuar a fazer música, julgo que a música ajuda a envelhecer bem.»
«Vocês se calhar julgam que viver da música e fazer o que nós fazemos é uma cena incrível e fantástica. Pá, é bem complicado, passam-se momentos bastante complicados. Em última instância, aquilo que nos faz continuar é esta paixão, é o gostar de fazer isto e querermos fazer isto seja lá como for.»
«Uma das profissões com menor expectativa de vida é a profissão de músico. E tem a ver com o facto de que os músicos que se safam, que conseguem viver da música, são os que andam na estrada, porque é aí que se ganha dinheiro. A estrada tem um lado que é bastante agressivo para a nossa saúde porque passa-se muito tempo em carrinhas, aviões, etc. Nem sempre se come bem, dorme-se mal, com horários marados de acordar cedo, dormir numa carrinha torto, aguentar até às tantas para tocar numa festa académica em que se entra em palco às 3 da manhã. Nós já temos filhos, e um gajo passa a semana em casa e acorda às 7 da manhã para levar os filhos à escola e ao fim-de-semana tem de funcionar ao contrário. É um jet lag constante e isso causa-nos um certo desgaste.»
«Há uma coisa que é importante e gostava de vos passar: as decisões que vocês são obrigados a tomar agora nos próximos tempos e que vocês vêem como sendo ultra importantes e que vão definir tudo o que vai ser da vossa vida, o curso que vão escolher, aquilo que vão ser... Não é bem assim. Vocês podem decidir fazer uma coisa agora e isso não decide tudo o que vai ser a vossa vida. Podem mais à frente concluir que não era aquilo e mudar. Houve uma ou outra decisão que eu tomei que eu achei que eram super importantes e iam definir toda a minha vida daí em frente. E felizmente não definiram.»
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