Jorge Cruz esteve à conversa com o podcast
Rádio Defusão, escolheu umas canções, falou sobre música country, o novo EP, os concertos, o público de Diabo na Cruz e ainda mandou um shout-out aqui a este blog (obrigada ♥). Podem ouvir
neste link e ler aqui alguns excertos:
Reedição do álbum Diabo na Cruz
«Vou ser mesmo sincero, as editoras é que depois aproveitam as oportunidades de haver vontade de lançar uns materiais novos. Eu por mim teria até feito uma coisa na internet e oferecido [o novo EP] em download separado e tal. Mas pronto, estamos metidos com gente muito fixe, que nos ajuda muito na promoção e no nome da banda a andar aí, e temos todo o gosto em cumprir com o que eles gostariam de fazer.»
O público de Diabo na Cruz
«Temos um público espectacular que faz competição para ganhar entre quem é que já viu 15 concertos e quem já viu 18. E que dá aquele ânimo, sabes? Às vezes chegas àquela noite e não sabes muito bem por que é que estás a fazer aquilo e vês aquele mesmo povo a fazer quilómetros e dizes pá, eu tenho de dar o meu máximo outra vez. Portanto, a maior gratidão a esse pessoal.»
Diabo na Cruz ao vivo
«Na verdade eu odeio tocar ao vivo, mas...! Não o resto da banda. Não, estou a brincar. Há um lado de mim que gosta de estar em casa a compor e não sei quê, não gosto de sair à noite, nunca gostei muito na verdade. Mas... quando entramos em palco, acontece algo que é Diabo na Cruz e é espectacular. Começa por ser espectacular para nós e penso que isso transmite para o público. (...) Não ver a banda ao vivo é um pouco não a conhecer. Eu acho que os nossos discos são uma tradução da nossa intenção, mas não são propriamente a nossa música. A nossa música é o que nós fazemos ao vivo.»
A música que ouvia antes de formar Diabo na Cruz
«Na altura eu era um groupiezinho de Gaiteiros de Lisboa, fui a 4 ou 5 concertos seguidos, como se calhar hoje vejo algumas pessoas a fazerem com Diabo. (...) E não era só Gaiteiros. O Carlos Bica tinha aquele Trio Azul de que eu era grande fã, o Jorge Palma estava numa fase de muitos concertos e eu costumava ver, os Zen, uma banda que me influenciou bastante ao vivo e que via com frequência. Nós costumávamos fazer umas festas entre amigos em Aveiro e de vez em quando eu lançava uma música de Gaiteiros quando o pessoal já estava bastante com os copos, assim às 6 da manhã, e aconteciam coisas. Pá, parecia aquele
teledisco dos anos 80 em que há uns gajos a saltar e depois há duendes e anões, aquilo era muito louco. E então aquilo sugeria uma certa música que se podia fazer e isso era Diabo na Cruz.»
Jorge Cruz a solo?
«Falar sobre isso é curioso, porque é um bom segredo que eu vou guardando comigo mas não tenho assim nenhuma aspiração muito especial acerca disso. Mas tenho muito material que só poderia ser feito por mim numa situação qualquer em que eu não estivesse preocupado com vender mais do que 100 discos, portanto qualquer dia se calhar pode sair cá para fora.»
As escolhas musicais de Jorge Cruz:
Amélia Muge — O Pastorinho
«Esse disco,
Todos os Dias, é um disco demasiado raro, não o encontro em muitos sítios, é um disco que não consigo encontrar em vinil, e eu sou um coleccionador de vinil. É um dos melhores discos da música portuguesa.»
DIIV — Under The Sun
«Eu gosto da música, é uma coisa um bocado simples, mas é giro porque como Diabo ou outras bandas misturam 3 ou 4 referências. Diabo é um bocado mais complicado dessa maneira (risos), mas no caso deles misturam coisas que eu acho que não tinham muita ligação entre elas antes de eles mexerem. Neste caso é muito The Cure em termos de guitarra mas depois tem um lado Nirvana muito notório e depois tem coisas de kraut-rock que eu gosto muito de ouvir dos Can ou Neu!. É um pessoal de Nova Iorque. Se calhar mete-se demasiado nas drogas para a sua própria saúde, mas o disco é muito bom.»
Sturgill Simpson — Life Of Sin
«Eu diria que o Sturgill Simpson, com o Jason Isbell dos Drive-By Truckers, são neste momento as duas grandes esperanças da country americana. A country mais alternativa, não tanto aquela country comercial que vende milhares de discos, que aliás com o hip-hop são as grandes indústrias musicais na América. O Sturgill supostamente é influenciado por gajos como o Waylon Jennings e o Johnny Cash, portanto aquilo a que se chama outlaw music, música de forasteiros, aquela música de cobóis country. Eu gosto muito de country e o country está muito mais na linha da frente das coisas do que a gente pode imaginar. Influencia-me bastante, principalmente em termos de escrita. É se calhar onde a escrita para canções está mais evoluída hoje em dia na música. E não estou a falar de produção nem de melodia, estou a falar de letras. E este rapaz fez um álbum de country psicadélico em que fala basicamente sobre a época em que não tinha concertos e fumava demasiada ganza, só que depois viaja por noções estratosféricas sobre o que é o sentido da vida e esta canção é um bom exemplo do que ele faz. Estás a ver aquelas sapatilhas, as Paez? Tipo essse tipo de sapatilha de pano e umas calcinhas de ganga, ele é uma espécie de Vampire Weekend da country, um hipsterzinho normal só que roots rock mesmo a sério. Portanto é outra geração, é uma nova maneira de fazer.»