O baterista João Pinheiro foi recentemente entrevistado pela Vodafone FM, onde falou das bandas que integra (Diabo na Cruz, TV Rural, Real Combo Lisbonense, OIOAI) e do seu percurso enquanto músico (desde que ouvia Stone Temple Pilots até ao dia em que descobriu os Gaiteiros de Lisboa).
Descobrir a bateria
«Os meus pais tinham uma banda, os Ephedra, que no início dos anos 70 era uma banda de rock progressivo, aquela onda mesmo experimental, coisa que não se fazia muito em Portugal. Quando eu tinha 12, 13 anos descobri que o meu pai tinha uma bateria acústica escondida na cave dos meus avós, uma Slingerland. Montei a bateria e nas primeiras vezes que toquei fiz logo uns beats toscos. Nos primeiros anos aprendi por mim a ouvir, a tocar uns covers de Stone Temple Pilots e Nirvana. Foi talvez das coisas mais fixes da minha vida, foi sentir que havia qualquer coisa a acontecer quando tocava com outras pessoas. É incrível. É das memórias mais vívidas que tenho da minha adolescência, é de sair das aulas e ir tocar. Epá, tão bom.»
Entrar em Diabo na Cruz
«Diabo na Cruz foi a minha salvação. O Jorge Cruz estabeleceu-se em Lisboa vindo de Aveiro e começou a dar-se com pessoal da Flor Caveira. Primeiro falou com o Bernardo Barata, porque o conhecia de Feromona, e depois falou comigo. Eu nessa altura estava a tocar na banda do João Coração, que era da Flor Caveira. A primeira vez que o Jorge me falou mais a sério de Diabo na Cruz, disse: "Como é que é, João, estás pronto para ter mais uma banda de rock?" Bora lá... E de repente, pá, trabalhar com o Jorge e ao mesmo tempo com o Bernardo, foi todo um outro nível de profissionalismo. O Jorge é um gajo super profissional, super exigente. Depois entrou o João Gil e o B Fachada e aquilo começou a crescer, começámos a perceber que a junção de uma secção rítmica que se conhecia há montes de tempo (como eu e o Bernardo), mais as músicas fortes do Jorge, começou a definir esse conceito de ir buscar a música popular e tradicional com essa intenção explícita.»
Como Diabo na Cruz o mudou
«Levou-me a descobrir a percussão tradicional portuguesa, a ouvir Gaiteiros de Lisboa, que infelizmente nunca me tinha batido como depois me bateu. Gaiteiros tem coisas super potentes! Aquilo é rock, é tão rock como Metallica é rock. Tem power, só que não tem guitarras eléctricas. E a partir daí explorar os Galandum Galundaina, os testemunhos do Giacometti, tudo o que o Tiago Pereira tem feito, uma data de coisas que eu percebi que são a nossa raiz. E de repente tudo colou para mim. Perceber que nos últimos anos só tinha trabalhado com músicos que cantavam em português ajudou-me a definir o meu lugar na música para mim mesmo, o meu desígnio. Fazer música em Portugal. E pronto, Diabo correu muito bem, todos os que estavam lá, estavam lá para aquilo. Nós precisamos de fazer música para viver. Diabo permitiu-me tornar-me um músico muito mais competente, muito mais válido.»
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